segunda-feira, 16 de novembro de 2009

No corcovado, quem abre os braços sou eu

Paralelas
Dentro do carro, sobre o trevo, a cem por hora, o meu amor
Só tens agora os carinhos do motor
E no escritório onde eu trabalho
e fico rico quanto mais eu multiplico,
dimimui o meu amor...
Em cada luz de mercúrio, vejo a luz do teu olhar
Passas praças, viadutos,
nem te lembras de voltar,
de voltar, de voltar...
No corcovado quem abre os braços, sou eu
Copacabana esta semana, o mar, sou eu
e as borboletas do que fui pousam demais
por entre as flores do asfalto em que tu vais...
E as paralelas dos pneus n'água das ruas
São duas estradas nuasem que foges do que é teu
No apartamento, oitavo andar, abro a vidraça e grito
quando o carro passa:
- Teu infinito sou eu,
sou eu, sou eu, sou eu
No Corcovado, quem abre os braços, sou eu,
Copacabana esta semana, o mar, sou eu
e as borboletas do que fui pousam demais
por entre as flores do asfalto em que tu vais.





Não me pergunte o porquê, mas desde o começo da viagem estou com essa música na cabeça. Não a música inteira, mas essa parte que deixei destacada.


E finalmente dia 02/11, dia de Finados, chegou o dia de visitar o Corcovado. Acordei cedo, tomei café, tomei banho, me troquei, o básico de sempre e fiquei aguardando o restante do pessoal para irmos juntos conhecer o Cristo. Como em time que está ganhando não se mexe, repetimos o grupo do dia anterior, eu, Adolfo, Rafael e Rafael Salbego, juntaram-se a nós as meninas do quarto, Daniela e Susana. Pegamos um ônibus até o Cristo, que foi um trecho um pouco longo, mas fomos batendo papo, dando risada e olhando a paisagem maravilhosa e, então, o tempo voou e chegamos.


Uma das coisas boas em ser turista é perder a inibição para algumas coisas e poder fazer um monte de coisas que não faria em Santos. Por exemplo, tirar foto dentro do ônibus e conversar alto como se fôsse grupo de adolescentes voltando da escola.


Optamos para subir o Corcovado com uma van, pois o bondinho estava lotadérrimo e demoraríamos demais na fila. Na van encontramos mais três meninas e um rapaz que estavam no Hostel Che Lagarto. As meninas conheceram o rapaz no hostel e os quatro foram fazer o passeio juntos. O rapaz se chama Tomaz e é de Natal e de tão engraçado, virou a atração do momento. Contava piadas, todas sem graça e, por esse motivo, era muito engraçado. A vista lá de cima é linda, mas tudo estava tão cheio, mas tão cheio, que após ver a minha vontade era de descer logo. Não tenha essa necessidade de ficar lá em cima filosofando sobre a vista no meio daquela multidão. Pra mim, ir lá, ver, tirar a foto e ok, vamos descer, tava mais do que suficiente. O Cristo que me perdoe, mas o calor lá estava infernal. E as coisas hoje estão tão banalizadas que, na capelinha que tem no pé do Cristo, as velas são eletrônicas. Você põe uma moedinha e acende uma vela eletrônica. E chegando lá em cima de tudo, contrariando a letra da música, quem abre os braços é Ele.


Descemos, minha fome do almoço já começando, a fobia social aumentando, pois tinha muita gente mesmo, muita gente em volta, muita gente falando, era muito barulho pra minha cabeça, acostumada a ter seus momentos de total alienação ao mundo exterior. E o baixo astral começou a me rondar. O Rafa até percebeu e perguntou o que estava acontecendo. De acordo com ele eu estava "mais espontânea no dia anterior, mais protagonista e hoje mais coadjuvante". Interessante isso, uma pessoa que conheci no dia anterior já conseguir sacar minhas alterações de humor, sendo que as vezes convivemos tantos anos com alguém que quando olha pra gente não consegue perceber nem um palmo à frente do nariz. E essa frase dele me fez lembrar o filme "O amor não tira férias", pois tem uma cena em que um dos personagens, um ex roteirista de Hollywood fala para a Kate Winslet, que ela precisa ser a protagonista da vida dela, mas ela estava agindo como coadjuvante.


Fomos almoçar em Copacabana, tomamos um choppinho, o grupo diminui, a quantidade de gente em volta também e tudo foi voltando ao normal novamente.


Chegando ao hostel ainda deu tempo de trocar de roupa, deitar um pouquinho na praia de Ipanema e me despedir, vendo o sol se pôr e fechando a viagem com chave de ouro.



Como sempre, viajar é uma grande terapia para aqueles que conseguem se observar. Para quem está acostumada a viver sozinha, a ficar no silêncio quando quer, a fazer o que tem vontade na hora que bem entende, ficar num hostel, dividir um quarto com pessoas totalmente desconhecidas é uma forma de exercitar a tolerância, pois não dá para as coisas girarem redondo, como gostaria. Não dá para dormir quando quer e acordar quando quer, porque as outras pessoas têm vontades diferentes. É inevitável acabar acordando várias vezes durante a noite e não conseguir dar aquela dormidinha de meia hora no final da tarde. Ou aceitamos uns aos outros como eles são, ou nos isolamos e fazemos tudo sozinhos. E se a pessoa opta por se isolar, perde várias experiências interessantes e momentos engraçados que vão acontecendo no decorrer da viagem. Assim como perde também a oportunidade de conhecer pessoas tão bacanas que o acaso coloca no nosso caminho. E assim é a vida...um exercício de tolerância, de auto-conhecimento, uma prática diária para descobrir o próprio ritmo e aceitar o ritmo dos outros, pois no final, todos os ritmos juntos podem criar um belo show musical.

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